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Nos últimos anos tenho aprendido muito sobre fisiologia do parto, preparação, informação e empoderamento. Descobri que o parto normal pode ser “anormal” dependendo da falta de informação da gestante e principalmente da equipe médica. Antes de falar como eu me preparei para o meu parto natural, vou relatar minha experiência com a episiotomia em um parto normal hospitalar após cesárea e o desfecho de um parto natural 2 anos e meio depois, para que outras mulheres entendam a importância de preparar o corpo para a saída do bebê.

Quando eu escrevi aqui nesse blog há 2 anos sobre o que era o Ponto do Marido e a episiotomia, eu não sabia absolutamente nada sobre isso. Eu confiei em uma equipe médica que disse que era melhor fazer um corte “estudado” em local que menos afetava o períneo do que “arriscar” uma laceração “descontrolada”.

Minha bebê era pequena e por isso a médica fez um corte pequeno. Um corte desnecessário. Depois da episiorrafia (costura do corte), ela fez um ponto a mais no períneo conhecido como Ponto do Marido. Fui julgada e “apedrejada” nesse post que escrevi sobre o procedimento. Me chamaram entre muitas outras coisas de Monstra Machista. Fiz esse texto na época para informar outras mulheres que esse procedimento era feito sem que fosse explicado ou perguntado e para explicar porque eu disse que a vagina estava mais apertada que antes, no post que comparei meus dois primeiros partos: cesárea e parto normal. Como comentei acima, eu realmente acreditava que aquela equipe médica que cobrava cerca 20 mil reais para fazer um parto e 500-600 reais a consulta, tinha o melhor a me oferecer. Eu estava parcialmente enganada.

Realmente para quem teve episiotomia como eu, estar com uma boa equipe fez a diferença. Foram somente 4 pontos e nenhum incômodo depois de cicatrizado e depois das primeiras relações sexuais. Leio relatos de outras mulheres que sentem dor local anos após o parto e também relatos de mulheres que tiveram mais de 15 pontos e cicatrizes que ficam aparentes para fora do biquini. Esses cortes sim são feitos por médicos despreparados. Não se trata apenas de uma prática desnecessária, o termo correto para esse procedimento sem o consentimento da mulher é Violência Obstétrica! Hoje, somente depois de ter lido relatos como esses e fotos dessas marcas, que entendo um texto que li na época. Ele se referia a episiotomia como uma Mutilação do Corpo da Mulher. Quando eu li me senti ofendida, porque eu havia acabado de ter Parto normal depois de uma cesárea e estava muito feliz por isso. Não me sentia mutilada, mas hoje sei que muitas mulheres são sim.

Esse procedimento feito por muitos médicos em maternidades de todo o mundo não tem respaldo científico. Foi criado em 1920 e tomado como verdade a partir de então. Os médicos mais atualizados e principalmente os ligados ao movimento de humanização do parto sabem que a prática não deve ser realizada rotineiramente e é desnecessária na grande maioria dos casos. Para quem se interessar em dados concretos da literatura, sugiro a leitura do post Estudando Episiotomia, da Dra. Melania Amorim, no blog Estuda, Melania, Estuda!

A episiotomia provoca uma lesão de segundo grau e por atingir músculos mais profundos, tem uma recuperação mais lenta. Por sua vez, a laceração natural pode ser única ou múltipla, de primeiro ou segundo grau e pode ou não precisar de sutura. Isso quando ela acontece.

Na minha terceira gravidez cheguei a consultar com a mesma equipe médica e ao informar que eu não gostaria de ter o corte novamente, o médico concordou e me aconselhou a começar a fazer fisioterapia para o períneo – permitida a partir de 20 semanas – (e continuar no pós-parto caso sentisse necessidade). Mas eu não estava decidida sobre a equipe médica que queria ao meu lado para essa “ultima chance” de parir sem muita intervenção.

Com 16 semanas me consultei então com a Dra Catia Chuba, médica humanizada muito bem recomendada por amigas e leitoras. Ela me explicou que devido à episiotomia anterior o risco da laceração era ainda maior do que uma mulher que não tem, pois o tecido já tinha uma cicatriz. Ela reforçou que eu deveria preparar o períneo e fazer massagem perineal no final da gestação para tentar evitar a laceração no local da episiotomia.

Se teve alguma coisa no meu parto normal que me fez repensar se tinha valido mesmo a pena foi a recuperação pós-parto com a episiotomia, os cuidados com aquele corte e a dor no cóccix. Foi isso que me motivou a fazer o possível para evitar uma laceração e assim não precisar ter pontos. As únicas duas exigências para o meu parto seriam: não ter episiotomia e não ficar em litotomia (deitada). Comecei então a fisioterapia para o períneo com 20 semanas e resolvi me consultar com médicos de Campinas, onde estava morando.

Depois de trocar de médico mais 2x, me consultei com 33 semanas com a Dra Mariana Simões, a medica que me acompanhou no meu parto natural. Ela reforçou que a minha episiotomia era realmente bem pequena e fora do comum (e por isso eu tinha muita esperança de não precisar de outra e não ter laceração grande). Continuei com a fisioterapia e também aluguei o epi-no, um aparelho que “treina” a saída do bebê, indicado a partir de 34 semanas. (POST)

No meu parto natural eu tive liberdade de movimentação o tempo todo e em nenhum momento fiquei deitada.

O parto de cócoras ajuda a aumentar a abertura da pelve e músculos do períneo em até 30%, diminuindo o risco/gravidade da laceração e necessidade de episiotomia e diminui o canal de parto.

A posição de litotomia (deitada em posição ginecológica) dificulta a saída do bebê, pois não tem a ajuda da gravidade como em um parto vertical. 

Na banheira, fiquei apoiada sobre os joelhos até ela coroar e depois me sentei para a saída dela. Não tive nenhuma laceração, nem mesmo das que não precisam de sutura. Escutar da médica e da enfermeira que o períneo estava íntegro foi uma grande conquista pra mim. <3 

parto natural banheira agua

Quando pedi para ir ao banheiro ela me perguntou se realmente não estava ardendo em nenhum local (ela poderia não ter visto algum machucadinho leve) e realmente não senti NADA. Mal podia acreditar. No dia seguinte com a urina um pouco mais concentrada senti um leve ardor quando escorreu e a enfermeira viu que tinha um arranhãozinho mínimo dentro do lábio, mas cicatrizou em 2 dias. Impossível ter sido mais PERFEITO!

Aos médicos que defendem a pratica do “pique” e do parto horizontal: não fui cortada, não tive que refazer pontos, não tive que lavar e secar com toalha a cada ida ao banheiro, não tive que sentar na bóia, não fiquei dor no cóccix, não fiquei com pontos inchados e não tenho do que me queixar.

perineo integro xo episiotomia

Não venha me falar que é só sorte. E também não é porque a minha filha teve menos de 3Kg. Você pode ler o depoimento de um médico sobre um bebê que nasceu com mais de 5,300Kg e a mãe não teve laceração clicando AQUI.

O Períneo é uma região de pele e MÚSCULOS e como tais,  precisam estar fortalecidos para evitar lesões. O peso do bebê não define uma possível laceração. A musculatura vaginal de cada mulher e o perímetro cefálico de cada bebê exercem maior influência, por isso os exercícios fortalecedores da musculatura pélvica podem fazer a diferença na hora do parto. Existem outros motivos aumentam a chance de laceração, mas vou citar todos em outro post.

Clique aqui para o post com dicas de como fortalecer o assoalho pélvico. 

Clique aqui para ver a lista de procedimento desnecessários que aumentam o risco de laceração do períneo no parto.

Bjossss

Sobre Aninha

Mãe de um trio de meninas: Bruna (6), Clara (4) e Alice (2). Dedico meu tempo à minha família e ao LookBebê. Antenada, adoro redes sociais e tecnologia e mais ainda, compartilhar conhecimento e informações sobre a maternidade. Sou (fui) Biomédica, pós-graduada em Engenharia Biomédica, mas optei por mergulhar de cabeça na maternidade.