Começa aqui o relato do trabalho de parto natural domiciliar. Foi um parto domiciliar planejado, com o expulsivo na banheira, acompanhado por médica GO, enfermeira (EO), doula, médica neonatologista. Os partos anteriores foram uma cesárea agendada e um parto normal hospitalar com algumas intervenções e sem analgesia.
Contei no post Como começou meu trabalho de parto – pródromos e fase latente como começou o dia e como me preparei para a chegada da Alice. Exercícios de acupressão, bola, soneca a tarde e um banho relaxante fizeram parte dessa preparação. E então a equipe começou a chegar.
Como o relato ficou bastante extenso, na falta de tempo leia o negrito e veja as fotos. Se quiser todos os detalhes, leia tudo.
Quando começou a chegar a equipe
A Angelina (doula) foi a primeira. Veio ela e a “mudança”. Piscina inflável, pufe, banqueta, mangueira, óleos, massageadores, rebozo e mais um monte de coisas super úteis que poderiam ajudar no trabalho de parto.
Como comentei no post anterior, pedi a minha médica, Dra. Mariana Simões, para ser avaliada pela enfermeira e a Jéssica veio por volta das 19h. Ela me avaliou e apesar das contrações pegando ritmo, só tinha um dedo de dilatação, colo grosso, sem TP (trabalho de parto) aparente. Considerando as mais de 39 semanas de gestação e um parto normal anterior, esse um dedo já era esperado. Eu estava na fase latente do trabalho de parto.
Foi nessa hora que as mensagens começavam a chegar no celular (depois que o meu marido falou no snapchat que eu estava com contrações) e para eu não ficar mais ansiosa e deixar o pessoal “sedento” por informações, que publiquei o vídeo falando que eu ainda não tinha dilatação e que provavelmente daria notícias no dia seguinte. (video)
Falei com a Bianca e a Thais (da Instinto Fotografia, que contratei para o vídeo) que ainda demoraria muitas horas e que elas poderiam ir embora e voltar depois que o trabalho de parto engrenasse. Elas fizeram algumas imagens aqui e foram embora.
Nessa hora já estava aqui a fotógrafa do parto, Lu Nascimento, que conheci na gravidez da Clara (através de hashtags de gravidez no Instagram, acreditam? Ela também estava grávida da Isabella). Ela tinha muita vontade de fotografar parto mas como em São Paulo era difícil conseguir entrar nos hospitais se disponibilizou a registrar o meu parto, e eu, claro, AMEI e aceitei o presente.
DOULA
Assim que a equipe de video foi embora e a Angelina usou o rebozo (um tecido usado por doulas) para me ajudar a relaxar. Eram 20:35. Com a ajuda da bola fiquei debruçada e ela usou uma técnica para “soltar o quadril”. É uma delicia.
A técnica é antiga e de baixo custo. O uso do rebozo ajuda a abrir a pelve e estruturas relacionadas, ajuda o bebê encaixar no canal de parto, além de relaxar e estimular o fluxo de energia para o parto.
As meninas estavam participando e achando tudo uma diversão. Eu praticamente virei um túnel. heheh
Às 20:50 eu mandei mensagem pra Mari (Dra Mariana) perguntando que horas eu devia avisá-la, já que ela pediu pra não chamar muito em cima da hora. Ela disse que no máximo com contrações de 6 em 6 minutos e dor forte. O ideal era avisar com contrações de 8 em 8 minutos com dor. Eu avisei que as contrações estavam ficando mais fortes e que provavelmente seria naquela madrugada. Fui aconselhada pela médica a descansar.
Depois das 21h comecei a marcar as contrações, que já eram bem mais nítidas e fáceis de serem sentidas. Ganhei massagem nos pés, acupressão e ficamos no sofá mais de uma hora. O Breno (meu marido) já havia chegado do supermercado e preparou umas bruschettas. Comi várias pois já estava ficando com fome.
Por volta de 22:20h subimos com as meninas para fazê-las “dormir”. Eu estava com o nariz entupido, então a Angelina colocou um difusor com óleos essenciais no meu quarto.
O intervalo entre as contrações era de 9 a 11 minutos, mas logo que eu deitei com elas (22:30h) senti ainda mais incomodada durante as contrações. Com certeza dormir não ia ser possível, mas fiquei fazendo companhia para as meninas que assistiam desenho no meu quarto. A Bruna já tinha falado que não queria dormir (pois sabia que a irmã poderia chegar na madrugada), mas a Mari me aconselhou a estimular elas a dormirem, pois com a casa tranquila tudo fluiria melhor pra mim.
TRABALHO DE PARTO ATIVO
O intervalo que oscilava entre 8,5/9 minutos e até 11, caiu para 7. Assim, de uma vez. A próxima contração em 4 minutos. E a próxima 7 de novo. Depois de 4 contrações com intervalos abaixo de 8 minutos eu tive certeza que tinha aumentado a frequência e avisei a Mari as 22:50h. Enquanto conversávamos, mais algumas contrações com o mesmo intervalo (5-7 minutos) e intensidade aumentando.
Ela perguntou se estava doendo muito e eu disse que estava sim, mas controlado. Eram 23h e ela disse que já ia pedir para a Jéssica voltar pra me ver. Depois de alguns minutos meu marido saiu do banho e eu falei que estava incomodada com as contrações e as meninas não dormiam. Ele “me liberou”e disse que faria as meninas dormirem.
Menos de 1h depois de subir pro quarto, lá estava eu voltando pra cozinha. kkkkkk A Lu (foto), Angelina, minha mãe e minha sogra estavam lanchando e já espantadas me olharam com cara de: “vai descansar!!!”
Falei: “não dá… as contrações estão mais fortes e não consigo. Já falei com a Mari e a Jéssica vem me ver.”
A chegada da enfermeira obstétrica
Eram 23:15 e começamos a bater papo. Foi a última contração que eu marquei no aplicativo. Na hora das contrações eu precisava parar e me concentrar. Nos intervalos papeava e dava risada. E a Angelina sempre ali me massageando e me ajudando na hora das contrações.
Minha mãe preparou um chá de maça com canela delicioso e aproveitei pra tomar e relaxar. Dizem que a canela ajuda a estimular o trabalho de parto.
23:35 a Jéssica chegou. Durante a contração ela avaliou e viu que era uma contração verdadeira (apesar de que a minha cara não deixava mentir kkkk).
Nessa hora o Breno já tinha feito as meninas dormirem, apesar das risadas e bagunça que fizemos na cozinha. Toda hora a Angelina me oferecia água e enchia a garrafa para me manter bastante hidratada.
A Jéssica sugeriu que eu fosse andar um pouco lá fora. Foi só começar que senti que estava perdendo um pouco de líquido. Entramos e fui ao banheiro e saiu mais um jatinho.
Avaliação de dilatação
Achei que era a bolsa e a Jéssica (EO) falou para subirmos para ela avaliar. Fui direto pro banheiro e saiu mais um tanto. Tirei a calça que a essa altura já estava molhada e coloquei um absorvente. 23:50. A bolsa estava íntegra. Provavelmente foi só a primeira membrana da bolsa que rompeu. Porém, já estava com 7 cm de dilatação!
Na mesma hora a Jéssica avisou a Mari que ela deveria vir e eu pedi para a Angelina avisar as meninas do vídeo que viessem (quase correndo). hehe
A Angelina já tinha deixado a banheira montada e tudo preparado, então o Breno começou encher a banheira com água quente enquanto ela me aliviava a dor da contração. Fiquei no corredor por 5 minutos enquanto terminavam de preparar o quarto da Alice pra nos receber. Era o quarto que tinha maior área livre e achamos que ficaria melhor ali. No quarto ao lado, o de visitas (essa porta da foto abaixo), eles arrumaram a cama para que eu fosse pra lá depois.
Avaliação do bebê
A Jéssica pegou todo o material dela e veio auscultar a Alice. Ela estava ótima, com 132bpm. Em seguida ela começou a separar os materiais caso precisasse fazer alguma intervenção, sutura, etc e deixou tudo à mão no quarto da Alice. Cada agulha e outras coisas que eu via ela tirando da bolsa, eu pensava: é, está mesmo preparada! hehe Ela só teve o trabalho de tirar e guardar, mas no final eu falo mais sobre isso.
Fomos para o quarto 00:07. Cada minuto que passava, cada contração que vinha a Alice estava mais próxima de chegar. Minha mãe e minha sogra cada vez mais tensas, tentavam não demonstrar. Entravam no quarto com sorriso largo, me abraçavam, tirávamos fotos no intervalo das contrações e saíam pra chorar! heheheheh
Meu marido nessa hora colocou a Playlist que fiz para o parto (você pode escutar dando play na caixa vermelha ao lado no início do post —–>).
Mas… as contrações vinham! E cada vez mais fortes. Como eu já estava me preparando para ir para a banheira, tirei a blusa e coloquei a parte de cima do biquini.
Mais umas contrações e eu troquei a parte de baixo. hahaha Achei que estava meio ridícula de listras e bolinhas. hahahahaha Sim, eu ainda conseguia pensar nos intervalos.
Alívio da Dor
A Angelina não parou um minuto. Não precisava pedir. Ela tinha um verdadeiro arsenal de óleos essenciais e de massagem. No meu pulso ela usou o de Sálvia Esclaréia, que relaxa e estimula as contrações uterinas. Na barriga ela e o Breno fizeram massagem com óleo a base de camomila, alecrim e arnica.
Entre uma contração e outra era possível cantar e dançar ao som das músicas mais gostosas de se ouvir nesse momento.
E então, vendo que a hora se aproximava ela chamou reforços e fez com que minha mãe e minha sogra participassem ativamente do trabalho de parto e do alivio da dor. Ela as ensinou como deveriam pressionar meu quadril com o palmo da mão aberto e cada uma se posicionou de um lado. É impressionante como isso alivia!! É INSTANTÂNEO. Tanto o quadril como o sacro. Além de aliviar a dor, ajuda a abrir a pelve. Quando a Angelina estava olhando pro lado e a contração começava, eu pedia: “Angelina, aperta, pelamordeDeus!”
Vejam PAUSADAMENTE a sequencia de fotos a seguir.
E então 00:22 a Mari chegou. As contrações estavam extremamente doloridas. Ela auscultou a Alice no intervalo e também durante a contração e ela continuava com seus 130-132bpm.
Bolsa Rota
A equipe de filmagem chegou e em poucos minutos, às 00:28 a bolsa rompeu! Eu no auge da dor, só lembrei de falar: “vazou, vazou, vazou!” (ou foi ta vazando??? kkk)
O líquido estava límpido. Continuávamos no melhor cenário possível: bem assistida e monitorada, batimentos normais, líquido ok, TP evoluindo rápido. Métodos não farmacológicos para alívio de dor dando conta.
Eu me sentia muito preparada. O fato de ter tido um parto normal anterior sem analgesia, na qual fui colocada deitada depois dos 7cm e assim fiquei até depois de ir para a sala de recuperação me faziam ter uma certeza: Ficar sentada ou deitada no trabalho de parto eu não queria de jeito nenhum! Tive muita dor no cóccix no pós-parto da Clara, incômodos com a episiotomia, então eu queria o mais natural e respeitoso.
A opção do domiciliar só foi possível porque eu tive essa experiência anterior, tive uma equipe que confiou em mim e que estaria pronta para intervir ou indicar a hora de ir para o hospital caso fosse necessário. Estudei muito, me informei, e me cerquei de pessoas capacitadas para viver esse momento.
Com a bolsa rota, a Mari auscultou novamente a Alice e estava tudo bem. Ela sugeriu que eu entrasse logo na banheira, pois as contrações iriam ficar ainda mais doloridas. (#Agoraobichovaipegar)
Período Expulsivo
Nessa hora eu não conseguia falar. Comecei a sentir uma contração muito forte, agarrei na borda da piscina inflável e apertei. Sussurrei pedindo que a Angelina chamasse o pessoal. Ela perguntou: “Quem?” Pois nessas horas é importante que você esteja cercada apenas das pessoas que quer por perto. Eu vi que não tinha ninguém ali e estava MUITO PERTO da Alice chegar. Respondi rapidamente: “quem quiser!”
A Mari, minha sogra, mãe e Breno estavam arrumando o quarto ao lado para que eu fosse assim que saísse da água.
Vi que vieram minha mãe e minha sogra, e nada do Breno. Eu já começava a sentir os puxos. Era o período Expulsivo. Só consegui falar: “Chama o Breno!!!!” Ele queria muito estar ali e chegou em uma fração de segundo, se ajoelhou na borda da banheira e me abraçou.
Larguei a borda da piscina e agarrei no braço dele. Cada puxo que dava eu sentia que a Alice estava quase vindo. Estava com muita dor.
Na hora que eu precisei ele estava ali para que eu apertasse o braço dele. <3 Meu amor, minha vida. O apoio durante a gestação, nas pequenas e grandes decisões foram fundamentais.
Meu corpo começou a relaxar e se preparar para mais um puxo.
Assim que passou a dor eu pude sentir a cabeça da Alice. Sentia sua cabecinha com vérnix, toda macia. Falei pro meu marido e ele logo quis sentir. Ficou encantado.
Eu estava encantada de vê-la tão perto, chegando. Meu marido também. Nesse momento eu estava de costas para minha mãe e minha sogra e resolvi virar de frente para que elas pudessem ver.
Uma das coisas que eu pedi e escrevi no plano de parto é que eu não gostaria que ficassem me alisando muito, fazendo mil carinhos e falando o quanto eu era forte. Mas na hora do expulsivo bateu um desespero e foi a única hora que eu fraquejei. Olhei para a médica e falei que estava ardendo. Era o círculo de fogo. Ela muito calma, olhou nos meus olhos e disse: “Ana, você já passou por isso uma vez e sabe como é.”
Ela auscultou mais uma vez, já que a Alice estava coroando e esse era o momento mais “tenso” e estressante para o bebê. Minha garotinha continuava com seus impressionantes 130 batimentos por minuto.
Nessa hora a Mari disse que se o Breno queria entrar na banheira, essa era a hora. Ela estava coroando e prestes a nascer em alguns minutos.
Estavam todos em silêncio, menos eu que já reclamava a cada puxo que estava doendo. Escutei a minha mãe falando: “Respira!” Era o que faltava. Realmente ajudou a passar.
00:37 saiu a cabeça dela. Eu fui fazendo carinho e sentindo enquanto saía. Assim que saiu toda a cabeça foi um alívio gigante.
A cabeça saiu e a água continuava limpa. Não saiu sangue em nenhum momento. Ficamos bobos com tamanha perfeição e curtindo os minutos que antecediam o próximo puxo para a saída do corpo dela.
Às 00:39, ela fez a rotação sozinha. Foi impressionante!! Na mesma hora que ela virou o restinho para sair, senti o corpo virando na minha barriga. Espero que o vídeo do parto consiga mostrar esse momento.
Eu não queria tirar as mãos dela. Queria sentir o tempo todo. Meu marido estava a postos para recebê-la na água. Assim que veio o puxo, ela deslizou rapidamente e ele a segurou e trouxe para o meu colo.
Assim que ela nasceu, a Ana, pediatra chegou.
Como comentei no post sobre o nascimento da Alice (falei sobre a humanização e a recepção dela), o cordão era curtinho, então eu segurava ela mais baixa no meu colo. Estava também sempre molhando o corpinho dela e trocando a fraldinha da cabeça por uma seca. Quando a água começou a esfriar, saímos para ir para o quarto.
A médica permitiu que eu ficasse esses 20 minutos pois não tinha nenhum sangramento e estava tudo bem.
Atualizamos nossos irmãos sobre o nascimento da pequena. Estavam todos emocionados.
O Corte do cordão O cordão já havia parado de pulsar e minha filha recebido todo o sangue dela de volta.
Mas o parto não havia acabado. A placenta tinha que nascer. Foi às 01:14, 35 minutos depois da Alice, que nasceu aquilo que nutriu a minha filha por 9 meses. Quente, mole, sem nenhum incômodo. Eu brinco que foi até gostoso. hehe
A Angelina fez um “carimbo” da placenta para guardarmos de recordação. Realmente essa foi a árvore da vida.
Fui avaliada e simplesmente não houve NENHUMA laceração. Quase não sangrava (do parto) e a médica e a enfermeira estavam impressionadas.
O Breno cortou o cordão. A Alice mamou.
Dra Mari me parabenizando pelo nascimento da Alice. Não tinha palavras pra descrever o quão satisfeita eu estava.
Em seguida ela estava…. servindo canudinhos de doce de leite! heheh
Depois que eu amamentei e comi, pedi para ir ao banheiro e a Alice foi ser avaliada e pesada pela pediatra Ana Paula Caldas. Nos trocamos e fomos para o meu quarto.
Equipe de Parto Não tenho palavras para descrever. Todas essas pessoas tornaram esse dia possível. O meu corpo soube parir e elas acreditaram em mim. Estavam lá me apoiando e prontas para intervir caso fosse necessário.
A equipe de parto possui oxigênio, material para sutura, material para entubar, drogas para conter hemorragia e tudo para um primeiro atendimento tanto para o bebê quanto para a mãe. Da mesma forma que entrou na minha casa, saiu sem uso. Graças a Deus.
Obrigada, obrigada!
Fotos: Lu Nascimento (SP)
Vídeo: Instinto Fotografia (em edição) (Campinas)
Doula: Angelina Shintati (facebook/blog) (SP)
Médica Obstetra: Mariana Simões (site) (Campinas) (instagram.com/parindocomrespeito)
Enfermeira Obstétrica: Jéssica Cirelli (Aninhar Parteria Campinas)
Médica NeoNatologista: Ana Paula Caldas (site) (Campinas)
Muitas outras pessoas fizeram parte da minha caminhada em busca da equipe perfeita. Não poderia agradecer a todos, mas algumas são: Lê Fadelli, Fer, Lara, Vívian, Marina.
Para ver a movimentação no quarto em fast motion, veja o vídeo abaixo:
Bjs!!!
