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A poucos dias escrevi um post sobre a expectativa da chegada da Alice e as 39 semanas completas de gestação.
Essa terceira e inesperada gravidez foi a que mais durou (39 semanas e 2 dias com a data corrigida em -10 dias pelo ultra-som), a que mais me fez pensar em parto e em como recebê-la da melhor maneira.
A cerca de 2 anos eu comecei a aprender sobre a humanização no nascimento e desde então venho me informando.
Essa mudança é uma construção que acontece de dentro pra fora e aos poucos.
Eu nunca vi o nascimento das meninas (Bruna e Clara) como um momento em que não houve amor e respeito, muito pelo contrário. É nítido nos vídeos dos partos delas que o amor não cabia dentro do peito e a emoção transbordava, mas realmente algo estava errado. (Pra quem ainda não viu, tem um vídeo com cenas dos meus 2 primeiros partos.)
Apesar de terem sido partos bem diferentes – uma cesárea agendada e um parto normal hospitalar – houveram muitas semelhanças na recepção das duas: assim que nasceram foram “esfregadas” para estimular a chorar; tiveram o cartão cortado imediatamente após o parto; foram para procedimentos hospitalares como medir, pesar, carimbar o pé antes mesmo de ficarem comigo ou de mamarem; passaram no colo de pessoas estranhas e por procedimentos extremamente desnecessários naquele momento, ficaram em observação no berçário e tomaram banho menos de 3h depois do nascimento sem ao menos terem passado esse tempo comigo.
Esses foram os motivos que me fizeram estudar a necessidade de certos procedimentos e enxergar a diferença de posicionamento de uma equipe de parto humanizado.
Quem procura um parto humanizado, estuda. A mulher não escuta somente o que o médico tem a dizer, ou aceita os protocolos hospitalares sem questionar. Ela lê, se informa e faz escolhas sobre o seu parto e sobre suas preferências. A mulher é a protagonista do parto e os profissionais sabem assistir e esperar o tempo do bebê e da mãe evitando intervenções desnecessárias.
O profissional ‘humanizado’ apresenta opções para a gestante baseada em evidências científicas e é contra procedimentos desnecessários que geralmente são aplicados como rotina.
Por exemplo: porque todos os bebês recebem nas maternidades o colírio de nitrato de prata ou “credê”, sendo que esse medicamento previne a conjuntivite causada pela bactéria da gonorréia? Se a mãe não apresenta essa doença ou teve uma cesariana (ou seja, o bebê não passou pelo canal vaginal que está “contaminado”), o que justificaria pingar o colírio (super ardido por sinal) no bebê? Pra facilitar os protocolos hospitalares. Afinal, é mais fácil criar uma ‘linha de produção’ do que procurar saber o que cada família prefere/precisa, certo?! Assim eles – hospitais – saem ganhando pois recebem por mais procedimentos. O bebê? Ahh, estão só pensando no bem dele. (#sqn)
A aplicação desse colírio é um protocolo do Ministério da Saúde e foi implementado há mais de 100 anos quando mal era feito pré-natal e exames de rotina. Precisa ou não precisa ser revisto? Para que o credê não seja aplicado a mãe deve assinar um termo na hora do parto informando que recusou o procedimento.
Infelizmente esses profissionais que questionam os procedimentos baseado em evidências científicas ainda enfrentam barreiras e perseguições tanto por colegas de profissão como pelas instituições.
Para que o bebê não passe por esses procedimentos, a gestante precisa estudar as opções e informar ao pediatra sobre quais procedimentos ela é contra. Quando a equipe é do hospital, é mais difícil fazer valer seus direitos e informar o plano de parto na hora do nascimento, mas é possível. O único problema é que na hora do parto a mãe vai ficar se preocupando em saber o que estão fazendo com o bebê, e se está de acordo com o que ela quer. Quando a equipe é particular, os procedimentos podem ser conversados e combinados antes. Também é possível procurar os médicos que trabalham no hospital que a gestante pretende ter o bebê e marcar a consulta antes do nascimento para ver “qual é” a deles, e se eles concordam com o plano de parto.
É importante reforçar: o parto humanizado não é necessariamente domiciliar. O parto pode ser hospitalar (deve ser no ambiente onde a gestante se sente mais segura e dentro das melhores condições) e com uma equipe que respeite as opções da gestante e saiba intervir somente se necessário.
A recepção da Alice foi muito diferente. Nasceu na água, com luz baixa, foi recebida pelas mãos do pai e veio para o meu colo.
Como não havia sangramento pudemos ficar na água por cerca de meia-hora, e depois fomos para a cama esperar a saída da placenta.
Esperamos o cordão parar de pulsar (e ela receber de volta todo o seu sangue) já na cama e a placenta sair como eu queria, para então cortar o cordão. Como era curto, só nessa hora eu coloquei no peito para mamar. Ela fez uma pega perfeita e mamou o colostro, tão importante nos primeiros dias do recém-nascido.
Obviamente não recebeu o colírio de nitrato de prata.
A pediatra Neonatal estava presente durante todo esse tempo. Depois que o cordão foi cortado, que ela mamou e ficou mais um tempo no meu colo, eu pedi para ir ao banheiro fazer xixi, e aí sim a Alice foi ser trocada, pesada e avaliada pela pediatra, e eu coloquei uma camisola pra dormir.
Já sobre a vitamina K (que previne a hemorragia por deficiência de vitamina K no recém-nascido), optamos pela injetável, já que os estudos mostram que o bebê que não toma a injeção tem 1 chance em 20.000 de ter a doença, os que tomam vitamina K via oral de 1 em 20.000 a 100.000 e quem toma a injetável tem de 1 chance em 200.000 a 400.000.(Fonte) A aplicação da vitamina K foi feita enquanto ela estava no meu colo e mamando, cerca de 2h depois do parto. Apesar da agulha ser bem grossa, ela estava segura e não chorou.
Ela não foi esfregada logo que nasceu, não tomou banho e tinha um cheirinho indescritível. O vérnix caseoso, camada que cobre a pele do bebê, serve de proteção e não deve ser retirado com banho logo após o nascimento. Eles recomendam que o banho aconteça somente após 24h do nascimento para que essa “gordura” seja absorvida pela pele.
Duas horas depois do parto fomos para o meu quarto e tiramos essa foto:
Sobre os procedimentos necessários:
Ela nasceu 00:39 da sexta-feira. Na sexta mesmo a enfermeira voltou para nos ver e sábado a pediatra fez uma nova visita para terminar de avaliar, fazer o teste do quadril, do olhinho e medir, saber se já havia feito cocô (mecônio), se estava mamando e para tirar o clamp do cordão umbilical.
Recebemos esse cartão lindo com as informações do nascimento.
Para o teste do pezinho eu vou agendar a coleta domiciliar e para o teste da orelhinha chamei a fonoaudióloga de confiança da equipe do parto que virá aqui em casa amanhã.
Agora é só esperar a próxima visita da pediatra em casa e depois que ela liberar, levaremos ao consultório pra começar o acompanhamento e iniciar as vacinas.
Só posso agradecer a equipe MARAVILHOSA que estava presente e que permitiu que vivêssemos essa experiência:
Fotos: Lu Nascimento (SP)
Vídeo: Instinto Fotografia (Campinas)
Doula: Angelina Shintati (facebook/blog) (SP)
Médica Obstetra: Mariana Simões (site) (Campinas)
Enfermeira Obstétrica: Jéssica Cirelli (Campinas)
Médica NeoNatologista: Ana Paula Caldas (site) (Campinas)
Como puderam ver, um parto domiciliar não significa um parto desassistido. Vou falar mais sobre essa escolha em outro post, mas ela não é uma opção simples e nem possível em todos os casos, por isso precisa ser muito bem avaliada.
Bjsssss
Aninha, a mais nova mãe de três