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Quem acompanha as redes sociais geralmente lê muitos relatos de mães descrevendo como foram suas experiências de trabalho de parto, principalmente relatando como é a transformação da mulher, geralmente um momento único e lindo… mas e os pais? Como um homem se torna um PAI?

Compartilho aqui as experiências nas quais me TRANSFORMEI e RENASCI como PAI:

A TRANSFORMAÇÃO

Primeira gestação da minha esposa Denise (2012), tudo incerto, não sabia o que me esperava. Muitas dúvidas e principalmente muita falta de informação. Gestante de primeira viagem, apenas contando com as experiências de meus Pais e das informações da Obstetra. Durante toda a gestação muitos medos: como cuidar de uma criança? Darei conta do recado? De que forma vou ajudar se nem consigo pegar um bebê no colo sem contrair e travar todos os nervos e músculos do meu corpo? Mas companheiro que é companheiro precisa estar ao lado da esposa “custe o que custar”. Então com fé em Deus segui em frente…

Gestação com vários obstáculos, mamãe com sinusite e tendo que tomar antibióticos antes dos 3 meses de gestação, diagnóstico de diabetes gestacional e a “cerejinha do bolo” com 27 semanas de gestação: um cálculo renal travado no canal do rim. Acredito que este foi um dos momentos da minha vida que mais sofri… Eu em Curitiba e a Denise com problemas renais, eu voltando de ônibus mais de 7 horas de viagem, de mãos atadas e coração apertado sem poder confortar mamãe e bebê para ao menos se sentirem amparados. Cheguei de viagem indo direto ao Hospital Policlínica para deslocá-los para a Santa Casa. Resultado da noite, colocação de cateter que acompanharia a Denise o restante da gestação do Eduardo.

Porque toda essa introdução?

Para chegar a alguns motivos que nos induziram a escolha do tipo do parto. Como comentei sem muitas informações sobre humanização de parto e muito medo dos “riscos” que poderíamos ter durante o Trabalho de Parto, acabamos optando por uma cesárea eletiva, o que para nós ou pelo menos para mim, naquela época, era a escolha mais adequada para recebermos nosso filho (já adianto que hoje seria diferente), mas então como me transformei em PAI?

A Cesárea eletiva

Chegado o esperado dia do nascimento de nosso primeiro filho, cesárea marcada para o período da tarde do dia 26/11/2012. Durante a manhã a ansiedade era enorme, porém tentei manter a calma. Fiquei em casa, ajustamos os últimos detalhes das malinhas para levar a maternidade, consegui fazer a barba tranquilamente. Já na parte da tarde tiramos algumas fotos e nos dirigimos para a maternidade.

Demos entrada no hospital e para mim estava tudo “perfeito”, esta era a escolha certa, estava tudo pronto e fazendo o melhor para nosso filho. Só esqueci de um pequeno detalhe que na época nem passava pela minha cabeça: o Eduardo estava pronto? Era a hora que ele escolheu para nos abençoar com sua presença? Não levei em consideração isso… o que é muito triste, mas como já comentei com as informações que tinha, na minha visão era o melhor para ele.

O horário chegou subimos em direção ao Centro Cirúrgico, a Denise entrou e eu fiquei aguardando, coração apertado, ansiedade em 100% até que me chamaram, me passaram as vestes para entrar no centro cirúrgico e um monte de recomendações do tipo: não desmaie, pois, a prioridade é a mãe, fique longe do que é azul (materiais esterilizados), você ficará num canto, evite de se mover e não se aproxime e por aí vai.

O nascimento do Eduardo

Entrei no centro cirúrgico, uma sala fria, ar condicionado na temperatura que deveria ser algo do tipo “era glacial”, a Denise já preparada, iniciaram o procedimento de cesárea, muito rápido por sinal, em pouco tempo fizeram a incisão, romperam a bolsa e meu filho nasceu as 15h39m com 3,075 kg e 50 cm de comprimento. Nunca me imaginei tão feliz como naquele momento, escutar aquele chorinho fez meu coração bater como nunca antes tinha batido, a emoção tomou conta e não tinha como conter as lágrimas que desciam sem parar. Meu filho nasceu, todo um projeto de vida agora era realidade.

Acompanhei meu pequeno até a sala ao lado onde foram realizados os primeiros atendimentos nele. Voltei com ele no colo e o coloquei ao lado da Denise, comemoramos juntos aquele momento por cerca de cinco minutos e a Pediatra já levou o Eduardo para o berçário para tomar as primeiras vacinas. Segui ela até que pediu para eu aguardar do lado de fora do centro cirúrgico pela saída da Denise e que o bebê seria levado diretamente ao quarto.

Fiquei ali feito um BBB “Bicho Bobo e Babão”, sem acreditar muito no que havia acontecido e ao mesmo tempo aliviado e agradecido a Deus pela saúde do Eduardo e da Denise. Quando a Denise saiu, acompanhei ela até o quarto e aguardamos o retorno do Eduardo. Aquela fobia de pegar neném no colo havia simplesmente sumido, não via a hora de tê-lo novamente nos braços e quando ele chegou e pude pegá-lo, olhando em seus olhinhos tive a certeza que naquele momento eu havia me TRANSFORMADO em PAI.

O RENASCIMENTO

Só de iniciar a relatar já fico arrepiado e com os olhos marejados. Eduardo agora com 2 anos. Nesse meio tempo a Denise não satisfeita com o desfecho do parto do Eduardo, a todo momento buscava informações sobre gestação e principalmente a humanização do parto e tenho que confessar eu achava isso o cúmulo! Ela começava a falar sobre partos verticalizados, na água e em casa e eu já retrucava: “Lá vem você com esses papos de índia, daqui a pouco vai querer ter um filho de cócoras no meio do mato”, mas nada como o tempo para nos mudar.

A Denise um dia chegou para mim e disse que tinha intenção de uma nova gestação e que seria diferente da primeira, mas para isso precisaria do meu apoio e muito seriamente me questionou se eu a apoiaria num parto humanizado. No início internamente até relutei, mas vi a determinação em seus olhos e apostei nisso e a partir daí mergulhei nesse novo mundo de informações.

A nova gravidez

Passado cerca de um ano depois deste episódio tomamos a decisão de uma nova gestação, o Eduardo com 3 anos e a Denise deixou te tomar o anticoncepcional e esperávamos que, como na gravidez do Eduardo, demoraria cerca de 6 meses. Doce ilusão! No primeiro mês já tinha atraso na menstruação e nós estávamos de viagem marcada. Não tínhamos certeza da gravidez, então durante a viagem a Porto de Galinhas a Denise fez exame de farmácia e confirmou que estávamos grávidos novamente.

Essa se tornou a viagem mais feliz que realizamos em família, pelo local, pela natureza ao nosso redor e principalmente por curtir ao máximo nossa família que agora iria crescer. Até hoje o Eduardo fala que quer ir para lá novamente.

Durante toda a gestação fomos nos munindo de informações e passei de crítico desinformado para defensor do Parto Humanizado.

Grupo de Apoio

Quando retornamos descobrimos a ótima notícia que o Grupo Gesta de Campo Mourão iria retomar os trabalhos e adivinha qual o assunto da primeira roda de conversa? “Humanização do Nascimento”. Participando deste encontro e dos demais descobri o quanto eu estava errado e era preconceituoso a respeito de Parto Humanizado. Foi a partir das conversas no Gesta que me preparei cada vez mais para apoiar a Denise na nossa decisão de proporcionar para nossa família um Parto o mais humanizado possível. Durante toda a gestação fomos nos munindo de informações e passei de crítico desinformado para defensor do Parto Humanizado (brinco que agora sou praticamente um Cacique).

Além disso Deus colocou alguns anjos em nosso caminho para nos ajudar, primeiramente Dra. Carolina (Obstetra) e a Thaís (Doula e Psicóloga) que nos acompanharam durante toda gestação, depois as amigas que passaram por trabalhos de parto (Elaine, Glacielle, Gracieli, Marcela e Arielli) que muniram a Denise com informações de suas experiências de gestação e TP e ao final o Dr. Laércio (Neonatologista) e Joyce (fotógrafa). Todos na minha visão responsáveis pela maior transformação ocorrida na nossa família, que passo a relatar agora:

Relato de Parto após cesárea

Madrugada de 06/04/2017 a Denise me acorda e diz que iniciou o trabalho de parto. “As contrações vem e vão como ondas ritmadas”, ela diz para eu não me preocupar e descansar pois poderia se estender … tentei descansar, acredito que até cochilei, mas logo despertei. Como é importante ter informações, eu sabia em que fase do TP estava e entendia perfeitamente o que iria acontecer.

Um fato engraçado, se fosse pelo aplicativo do celular ele já estava orientando para ir para o hospital kkkkkkkkkk. Mas como disse sabíamos o que iria acontecer e no meu caso acredito que fui envolvido por uma inspiração divina pois nunca fiquei tão tranquilo como naquele dia. Logo pela manhã avisei meus colegas de trabalho que estava acompanhando a Denise em exames, mas sem alarde de TP para não gerar expectativas nas pessoas e muito menos na Denise.

Fase latente

Fomos até a Dra. Carolina por volta das 08:30h e em exame a Dra. constatou que havia realmente iniciado o TP e que tínhamos 2 cm de dilatação. Retornamos para casa felizes por estarmos vivendo aquele momento tão esperado. Passei a manhã toda ao lado da Denise, tentando aliviar suas dores com pressão em seus quadris. Já adianto para os futuros papais e acompanhantes que têm intenção de acompanhar suas esposas durante o TP, vocês não passarão por dores, mas farão muita força nesse processo e necessitarão ter muito paciência.

Próximo a hora do almoço chegou em nossa casa a Thaís (Doula) para nos acompanhar e auxiliar a Denise durante as contrações e a fotógrafa Joyce para eternizar esse momento. Retornamos na Dra. Carolina e o trabalho continuava em andamento, agora com 3 cm de dilatação. Voltamos para casa, almoçamos juntos, sempre com pausa para as contrações. O período da tarde foi um mix de emoções entre uma contração e outra, pausas para ver fotos da infância da Denise, fotos do Eduardo ainda bebê, imaginando se o Guilherme nasceria parecido com o ele. Estávamos alegres e apesar de todas as dores conseguimos passar por tudo mantendo o bom humor e a tranquilidade, até mesmo o Eduardo apesar de ter apenas 4 anos aparentava entender tudo o que estava acontecendo e ficou tranquilo também.

Depois das 17h retornamos na Dra. Carolina para exames e para nossa surpresa a dilatação não havia progredido muito, estava entre 4 e 5 cm, fiquei um tanto quanto desanimado, porém ao mesmo tempo confiante, acreditei que este ritmo seria o escolhido por Deus para a Denise aguentar. Fizemos um cardiotoco e estava tudo bem com o Guilherme… durante o exame a Denise brincou que a contração que ela teve deveria ter dilatado mais uns 2 cm, mesmo assim, estimamos que o TP se estenderia pela madrugada e desta forma combinamos rever a Dra. próximo a meia-noite.

Fase Ativa

Quando retornamos para casa (+/- 18h), tudo mudou e naturalmente acabamos nos imergindo no processo. Nosso quarto foi palco de um ato de emoção, paixão, dor mas principalmente muito amor, que fez com que a Denise se libertasse, abrindo a passagem para o Guilherme vir a nós. Foi tão intenso que em 2 horas passamos pela fase ativa e de transição e praticamente entramos no expulsivo, quando decidimos ir para o Hospital. Foi complicado tirar a Denise do quarto, pois as contrações não davam trégua, até que a Thais falou sério com ela… “Denise nós temos que ir para o hospital”… foi o tempo de eu trocar a camisa, uma última contração em casa e partimos para a Santa Casa próximo das 20h30m.

No hospital

No caminho algumas contrações no carro, chegamos lá e entre uma burocracia e outra a Denise foi primeiramente para o quarto, pois a Sala de Parto Humanizado estava ocupada e a Dra. Carolina estava atendendo outra gestante naquele momento. Quando cheguei ao quarto a Denise estava no chuveiro e durante outra contração a bolsa rompeu. Neste momento imaginei que o Guilherme nasceria ali mesmo, mas seguimos em frente e fomos chamados para ir para o centro cirúrgico. Para ir mais rápido a Denise foi de cadeira de rodas. E põe rápido nisso, nunca vi uma pessoa correr tanto empurrando alguém como o funcionário que conduziu a Denise no labirinto do hospital… detalhe: eu atrás carregando uma pequena “malinha” com algumas “cositas” que planejamos utilizar durante o TP.

Vou deixar para ela contar em seu relato o que tinha na malinha, mas resultado disso, cheguei na sala de pré-parto bufando, como se tivesse corrido uma maratona. Falando assim soou engraçado, mas na hora não tinha nada de engraçado eu estava muito preocupado com o desfecho do parto, estávamos na sala de pré-parto e a Denise se entregou, se pendurou no meu pescoço e abraçados novamente pensei que o Guilherme nasceria ali, mas estávamos fadados a passar pela maior experiência de nossas vidas.

Sala de Parto

Sala liberada, Denise seguiu com a Dra. Carolina para lá e eu fiquei aguardando as roupas para entrar, quando chega a primeira roupa… Primeiro o Pai… realmente tentei vestir rapidamente, porém a calça era “P” e não passou das minhas coxas kkkkk, enfim dali a pouco tempo chegou outra que me serviu… entrei na Sala de Parto, a Denise estava na banqueta, fiquei ao lado dela, ela com dilatação total na fase expulsiva. Perdemos a noção do tempo mas acredito que foram cerca de três contrações e nosso menino veio ao mundo as 21:58h, indo diretamente para o colo da Denise.

Pude acompanhar de perto, tocá-lo “como nasce quentinho”, lágrimas rolavam, cordão parando de pulsar e a Dra. me entrega a tesoura, clampea o cordão e me libera para cortá-lo, momento lindo, emocionante e transformador, neste momento RENASCI como PAI e não sai mais do lado do Guilherme. Acompanhei-o enquanto o Dr. Laércio o examinava, trouxe-o de volta para a Denise, quando ela foi liberada para o quarto eu levei nosso filho até o berçário para tomar a primeira vacina, ajudei a medi-lo, 3,465 kg e 50,5 cm de comprimento, não deixei que fizessem nenhum procedimento desnecessário com ele, quando ele foi liberado ainda encontrei a Denise e tivemos a oportunidade de descer juntos para o quarto. Para fechar a noite não conseguíamos dormir, estávamos exaustos e em êxtase, tentando assimilar tamanha emoção e transformação em nossas vidas.

Agradecimento

GRATIDÃO e ORGULHO: por fim quero agradecer a Deus por tudo que nos proporcionou, principalmente aos anjos colocados em nosso caminho. Também quero deixar registrado aqui o orgulho que tenho da mamãe Denise, sua força e perseverança são impressionantes, nunca deixe ninguém dizer que você é fraca, pois se alguém te disser isso é porque tem medo da verdadeira Leoa que você é!!! NEOQEAV.

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A equipe durante o parto do Guilherme em Campo Mourão/PR foi formada por:

  • Dra. Carolina (Obstetra)
  • Thaís (Doula)
  • Dr. Laércio (Neonatologista)
  • Joyce (fotógrafa).

Interessante frisar que a Doula Thaís e a fotógrafa Joyce são de Maringá, e, na época a Thaís liderava o Grupo Gesta em Campo Mourão, porém como ela era de fora ficou difícil dela continuar com o grupo, entretanto o Gesta deixou sementes aqui em Campo Mourão e algumas gestantes deste grupo, se tornaram Doulas (inclusive minha esposa) e hoje estão trabalhando com o Flor do Ventre (facebook.com/flordoventre/), para atendimento e suporte a Gestantes.

Abraços
Luciano

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Sobre Aninha

Mãe de um trio de meninas: Bruna (6), Clara (4) e Alice (2). Dedico meu tempo à minha família e ao LookBebê. Antenada, adoro redes sociais e tecnologia e mais ainda, compartilhar conhecimento e informações sobre a maternidade. Sou (fui) Biomédica, pós-graduada em Engenharia Biomédica, mas optei por mergulhar de cabeça na maternidade.