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Todo mundo que tem criança em casa reconhece o quanto elas são agentes de mudanças na família: pelo simples fato de nascerem, com suas características e necessidades, mexem profundamente com a afetividade dos pais, com a dinâmica da casa e dos familiares.

Ah… como é uma delícia quando nasce um bebê na família! Todos acompanham de perto seu desenvolvimento, seus primeiros passos e palavras. Tudo é uma grande novidade. A atenção é praticamente voltada a ela, 24 horas!

Se uma criança é uma alegria imensa, imagine DUAS?! Mas será que esse sentimento é igual para quem vai ganhar um irmãozinho ou irmãzinha?

Algumas crianças, a depender da distância de idade entre elas, consideram a chegada de um novo bebê um “conflito”. Além de perder seu lugar como “bebê”, terá que aprender a dividir não só coisas materiais, como também a atenção e o afeto dos pais. Após o nascimento do(a) irmão(ã), muitos apresentam medos, enurese (xixi na cama), voltam a chupar o dedo, a fazer birras, a falar errado, arrastar-se no chão, dúvidas sobre a gravidez (como mamãe ficou com essa barriga?), insegurança, chegando às vezes a realizar movimentos bruscos com os braços e mãos machucando seu(ua) irmão(ã).

Mas, calma, não é toda criança que ao ganhar um irmão fica assim. Há aquelas que desejam muito ter um irmão para brincar, fazer companhia e chegam a afirmar que será um presente de seus pais. Ufa, nem tudo está perdido.

Mas, independentemente do que aconteça, é muito importante que a criança acompanhe todo o desenvolvimento de seu irmãozinho de perto, desde a gestação ao nascimento. Pedir ajuda para escolher roupinhas, cor do quarto e brinquedos, é uma maneira sadia de gradualmente a criança ir se acostumando com a ideia de ter um irmão. No período da gestação ao nascimento, é necessário que os pais criem estratégias para não deixarem o outro de lado, pois ele continuará também precisando de atenção e carinho.

Lembro que, quando minha irmã mais velha teve sua segunda filha, a primeira mostrou-se muito insegura e chorosa, já que ela não podia ficar muito tempo no hospital, e devido às fantasias que ela criou acerca do nascimento (achou que sua mãe iria morrer ao dar a luz). Para amenizar, minha irmã contou com a ajuda da família para distrair minha sobrinha, bem como surgiu a ideia de comprar uma boneca. Assim, quando sua irmã nascesse, “daria” a mais velha uma boneca de presente. E foi o que aconteceu.

Da mesma maneira que o nascimento de um novo membro na família é uma alegria, a criança que aguarda a chegada de um irmão deve também compreender e associar este momento com um sentimento de alegria e não como de exclusão e insegurança.

Só quem tem irmão sabe o quanto é bom e, ao mesmo tempo, complexo. Por mais que sejam educados e criados pelos mesmos pais, apresentam personalidades muito diferentes uns dos outros. Há famílias que preferem apenas ter um filho, outras um casal, outras três e assim por diante.

No convívio entre irmãos nem tudo são flores, mas também nem tudo são espinhos. O ciúme, a insegurança, a necessidade de competir pelo lugar de destaque, o medo de ficar em desvantagem, são os principais sentimentos que servem de combustível para as brigas e rejeição. Porém, em qualquer época da vida, as mudanças podem acontecer. Mesmo entre irmãos que brigam muito, a solidariedade aparece quando um percebe que o outro é atacado por colegas de escola e sai para defendê-lo.

Vale ressaltar que o campo emocional do relacionamento entre irmãos é muito rico e oferece várias oportunidades para desenvolver habilidades de convívio, inclusive a capacidade de fazer acordos, oferecer ajuda, construir planos em conjunto, dividir alguns pertences e respeito um pelo outro.

No espaço compartilhado há mais oportunidade de criar interesses comuns e fazer companhia um ao outro (na hora de dormir, por exemplo). O vínculo entre os irmãos é uma oportunidade de desenvolver solidariedade e cooperação. Mas é claro nem tudo é um mar de rosas. Há crianças que, embora tenham irmãos, crescem egocêntricas, tiranas e individualistas. Há irmãos que, mesmo depois de adultos, continuam disputando privilégios, brigando e competindo pelo poder de dominar o outro e acabar levando vantagem.

O relacionamento entre irmãos dependerá sempre da condução dos pais e na tentativa de instalar no ambiente a cooperação e o respeito um pelo outro.

Sobre Lilian Britto

Graduada em Psicologia pela Universidade Salvador – UNIFACS e pós-graduada em Psicologia Analítica pela Psiquê - Centro de Estudos C. G. Jung, atua como psicóloga clínica com crianças e adolescentes. Além de coordenadora de cursos da Clínica Psiquê, presta trabalho voluntário na Fundação Lar Harmonia junto a crianças carentes. Apesar de ainda não ser mamãe, é apaixonada por crianças e, por isso, dedicou e dedica a sua formação profissional nesse fantástico mundo infantil.